Mal acaba de conhcer aquela belezura de moça, o capiau fala:
- Que tar apareçê no meu sítio pra iscutá uns discos de drupa caipira que truxe da cidade?
- E se ieu num gostá das música que cê gosta, hein?
- Tem pobrema não, a gente bota roupa e sai pra dar uma vorta de cavalo...
082- folgado
O pai da Cida chama o Chico e encosta o caipira na parede:
- Intão minha fia qué casá cocê? Quando vai ser o casório?
- Ela ainda vai resorvê...
- E ocês vão dá uma festa?
- Minha mãe vai resorvê...
- Já sabe de que manera vai sustentá a casa?
- Isso deixo pro senhor resorvê, uai!
083- Nome do burro
Seu Orestes, um fazendeiro muito letrado do interior de São paulo
ficou sabendo que um de seus colonos,
o Bastião, queria vender um burro. E perguntou:
- Qual é o nome dele?
- Num sei...
- como não sabe? O animal não é seu?
E o caipira:
- Num sei qualé o nome dele, qui no coitado nunca me falô..
Agora, eu costumo chamá ele de juca!
084- Emergência médica
nterior de Goiás, lugarejo onde um único ônibus pinga-pinga percorre as estradinhas de terra.
Naquele dia, o Tião perdeu a condução.
Já estava anoitecendo e o caipira coçava a cabeça, penbsando no Cida,
que ficou sazinha com as criançaas no meio do mato, Nisso, viu o doutor Carlos, o médico da vila,
de prosa com o farmacêutico. o caipira foi falar com ele:
- Quanto o doutor cobra pra ir inté o bairro das Abroba?
O médico responde:
- Cem reais!
- I o sinhô pode i agorinha?
- Claro! Sobe no meu carro!
Chegando em casa, Tião abre a carteira e entrega uma nota de cem pro médico. E o doutor pergunta:
- E cadê o doente?
- Tem doente nenhum... É qui o motorista de táxi me pediu duzentos real! responde o caipira.
085- Mal entendido
Tinha acabado de entrar o horário de verão.
A caipira, complitamente por fora dos acontecimentos,
vai à cidade com a netinha adolescente.
Dois marmanjos conversam ali perto:
- Zeca, que horas são?
- Três na nova e duas na véia!
- E dez na vossa mãe, seu disgramado, sem vergonha!
086- Valentia
Na venda do mané, um caipira conta pro pessoal:
- Precisava di vê como escapei por pouco duma baita onça outro dia...
- Num diga...
- De repinte, topei com a fera e carquei o gatilho da minha cartuchera! Mas, nada... a danada faiô.
Aí, carquei de novo e faiô outra veiz. Aé, saí correndo e subi em riba duma árvre!
Mas a oná escalou os gaio, doida pra botá as pata ni mim.
sorte minha que a fera escorregô da árvre e caiu!
- Nossa, cumpadre... que valentia! Se fosse comigo, tinha me cagado todinho! diz alguém.
E o caipira:
- E no que o cumpadre acha que a onça escorregô?
087- Pai prevenido
O wellington, um playboy rural, tá de namoro com a filha do Tião.
O rapaz, todo valente, tenta convencer o caipira:
- Mais, seu Tião... Qual é o pobrema? Num vô arrancá nenhum pedaço da Suellen!
E o velho caipira:
- Uai... o pobrema num é arrancá! É ocê botá!
088- Preguiça
Sentados em volta duma mesa, enquanto tomam um cafezinho com rapadura,
dois caipiras morrem de preguiça. Um deles pergunta:
- Será qui lá chovendo?
- Sei não...
- vai lá fora vê...
- vai ocê...
- Eu não...
- Intão, chama o cão...
- Chama ocê...
- Duque!
O cachorro entra na casa e fica entre os dois preguiçosos.
- E então?
- Tá chovendo não, cumpadre... O cão tá seco!
089- Baita desgraça
Rodimeire estava carpindo uma rocinha lá perto do pasto, quando viu o touro subindo em cima da vaca.
Cheia de tesão, a mocinha caipira subiu em cima da cerca pra apreciar melhor o espetáculo.
Só que enfiou o pé no arame farpado, escorregou e caiu sentada,
de bunda no chão, com as pernas abertas, mostrando tudo.
Aí, ela percebe que tem um peão perto, vendo tudo. Sem jeito, a coitada diz:
- Já viu desgraça maior do que a minha, Genésio?
E o capiau:
- A da vaca é muito maior, sô!
090- Na escola da roça
A nova prefessora daquela escola rural pega o Tiãozinho no flagra,
olhando direto pra prova do coleguinha da frente. Ela dá aquela bronca:
- Eta moleque atrevido! Não tem vergonha de ficar colando o tempo todo?
Você não tira os da prova do Ditinho!
E o caipirinha cara-de-páu:
- pois é, dona... Se ele tivesse uma letra mió, num percisava ficá olhando o tempo todo, Sô!
091- O cumprimento
O Dito, o Tião e o Chico estão dando uma volta pela praça do arraial,
quando passa um outro caipira, que cumprimenta:
- Bão dia sor!
- Dia! _ reponderam os três.
Pois o seu belarmino deu bão-dia para eu e não procês! reclama o Dito.
- por que cê acha isso? _ perguntam os outros dois.
- Porque eu imprestei cem contos pra ele otro dia, uai!
E o Tião:
- Ora, pois eu garanto que ele cumprimentou eu!
Acuntece qui tô devendo quinhentos contos pra ele faiz mais de ano!
E o Chico:
- Intão tá mais do que na cara que o home deu bão-dia pra eu.
Sucede qui eu num devo nada pro homem e ele tamém num me deve nada, sô!
092- De cobertura
Um fazendeiro de Goiás resolveu que ia aplicar o que ganhou com a venda da última safra de arroz,
num imóvel no Rio, coisa de gente fina.
Ligou pra um corretor carioca, que disse:
-Você tem um bom apartamento a venda aí no Rio?
- Tenho um apartamento muito bom, em Copacabana, de cobertura!
- Não, não... pra cobertura tenho aqui em Goiânia mesmo. Aí, quero pra minha família!
093- Boa explicação
Jorge, que é homem da cidade, estava passeando de carro pelas estradas do interior de Minas
quando viu um capiau coçando a cabeça sem tirar o chapéu.
O homem acha aquilo muito esquisito e pergunta:
- Por que o senhor não tira o chapéu pra coçar a cabeça?
E o caipira:
- E por acaso arguém tira as carça pra coçá a bunda?
094- Sem romantismo
O Dito e a Cida eram amantes há anos.
Viviam juntos há mais de vinte anos. Um dia,
depois de irem ao casamento duma sobrinha, a Cida diz:
- Viu só que belezura de cerimônia? Bem que nóis tamém podia se casá...
- A essa artura da vida, quem é que vai querê nóis, véia?
095- O suicida
Belarmino tava pescando no seu ceveiro quando viu um sujeito pular no rio com roupa e tudo.
O caipira pulou rapidinho na água e salvou o coitado.
O suicida caminhou alguns metros e pulou outra vez no rio.
Belarmino, que tava de olho no tal sujeito, salvou o cara de novo.
O suicida caminhou alguns metros e subiu numa árvore para se enforcar.
Em seguida, o caipira catou o caniço e voltou à pescaria, ficando de butuca no suicida.
Dali a pouco, surge um monte de gente falando ao mesmo tempo. E um deles pergunta:
- Mais, seu Belarmino... por que não feiiz nada pra sarvá esse homem?
- Ora, eu sarvei o sujeito sim! Tirei ele da água duas veiz.
Dispois, quando vi ele se dependurá na árvre, pensei qui tava querendo se secá, uai!
096- Golpe da linguiça
O Zé e o Dito não querem saber de pegar no pesado, nem que estejam morrendo de fome.
Um dia, quando passam pelo bar do Mané,
sentem aquele cheirinho de comida e ficam com o estômago roncando.
Nisso, o Dito tem uma bela idéia:
- Sei dum jeito de nóis descolá uma bóia sem pagá.
Dispois que eschê os bucho, cê bota uma lingúiça entre as perna e eu fico embaixo da mesa.
Aí, o portuga vai pensá que nóis tá fazendo sacanagem e bota nóis pra fora na mema hora!
O golpe deu certo e os dois malandros caipiras passaram a aplicar em tudo quanto é bar e restaurante.
Eles se revezavam pra agir. Uma vez era o Dito que ia pra baixo da mesa, outra vez era o Zé.
Um dia quase ao meio-dia, o Zé fala pro parceiro:
- Dito, me passa a lingüiça, qui tá na hora da bóia!
- Lingüiça? Que lingüiça? Ela estagô e eu joguei fora semana passada!
097- Fofocando
Os dois caipiras se encontram numa venda:
- Oi, cumpadre! Como vão as coisas?
- Tudo bem! Vosmicê sabia que o Chico casou?
- Sabia, não! Casou com a Lucimeire?
- É, aquele mulherão! Agora o bicho tá que é um touro!
- De forte?
- Não, de chifre!
098- Vaca doente
Minha vaca tá doente! lembra quendo a sua ficô doente? O que foi que você deu pra ela?
- Dei uma ração especial. Se quisê, eu dou procê o que sobrô...
Uma semana depois ele encontra de novo o compadre:
- Você não vai acreditar, compadre!
Eu dei a ração que oce me deu pra minha vaca e ela... ela morreu!
- Olha sá que coincidência! A minha também!
099- Sigilo
o Valdomiro fala pra Nico:
- Você é capaz de grardar um segredo, cumpadre?
E o Valdomiro:
- Sabe o qui é... Tô precisando de mil reais!
E o Nico:
- Pode ficá tranquilo, cumpadre! vô fazê di conta que não ouvi!
010- Lógica caipira
Dois caipiras trocam um dedo de prosa no arraial:
- Sabe, cumpadre Tinoco, tenho um touro que mais parece boi capado...
- Pois, cumpadre Dito... Tenho uma vaquinha novinha, bem mimosinha,
que pode dá um jeito no bicho! Qué cruzá eles?
Os sois entraram em acordo o touro traçou a vaca e,
depois nasce um bezerrinho. Aí foi aquela consão danada:
- Me discurpa, mas o bezerro é meu porque a vaca é minha!
- Mas se num fosse meu touro, sua vaca num pegava cria.
O bezerro é meu, sô!
Os dois saem no tapa e vão parar na delegacia, onde o Tinoco conta:
- Óia, doutor delegado... Supondo que eu sô um touro e o senhor, uma vaca...
Eu como o senhor e aí nasce um bezerro. O bezerro é de quem?
- É da puta que o pariu! - Responde o delegado, de saco cheio.
E o Tinoco:
- Tá vendo, Dito? O bezerro num é meu nem seu. É da minha mãe, sô!